Porque é que não andas comigo de mão dada
nem me sussurras ternuras publicamente
mostrando-nos cúmplices e permitindo-me
oferecer-te todo o fulgor do meu desejo?
Porque é que não me seduzes privadamente,
levantando toros, rachando a nossa lenha,
preparando-nos o inverno e sossegando
as minhas entranhas exteriores, que comandam
este escravo corpo, encerrado num espírito
que não o conhece e o julga acerbamente?
Que proclama que te amo, mas que não chega
amar-te se não fores o mundo e não mo deres,
aqui, na minha mão fechada, para que eu o guarde
e reserve as sementes para o futuro.
terça-feira, 19 de agosto de 2014
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Prólogos
Hoje soube que ia morrer, e supliquei
às vozes do Hades que em mim se enlaçavam
o preço, o valor, o ponto da passagem
que levarei no fim, memória da viagem.
Mas as colunas douradas, que a sustentam,
no fundo da espiral, do vórtice que sou,
vibraram na vida que se escoa e nasce,
flamejando flores em que o prazer cresce,
porque o segredo escuro que me ata, leve,
cobre a voz da sereia e atiça o lume
das vozes que do fundo sobem e me enleiam
e os laços que me ligam à minha própria morte
são fogo que me nutre e assegura a vida
dos rostos mudos do presente que me basta.
às vozes do Hades que em mim se enlaçavam
o preço, o valor, o ponto da passagem
que levarei no fim, memória da viagem.
Mas as colunas douradas, que a sustentam,
no fundo da espiral, do vórtice que sou,
vibraram na vida que se escoa e nasce,
flamejando flores em que o prazer cresce,
porque o segredo escuro que me ata, leve,
cobre a voz da sereia e atiça o lume
das vozes que do fundo sobem e me enleiam
e os laços que me ligam à minha própria morte
são fogo que me nutre e assegura a vida
dos rostos mudos do presente que me basta.
domingo, 3 de agosto de 2014
O poeta é um voyeur
O poeta é um voyeur
que vê tudo claramente,
sentindo em si, com rigor,
o que sente a outra gente.
E os que vêem nos seus sonhos
a visão que reconhecem
lêem no espelho de si
o que de si desconhecem.
E assim se torna a escrita
no baloiço de si mesma,
matriz de todas as vidas
que veste o tom de um poema.
que vê tudo claramente,
sentindo em si, com rigor,
o que sente a outra gente.
E os que vêem nos seus sonhos
a visão que reconhecem
lêem no espelho de si
o que de si desconhecem.
E assim se torna a escrita
no baloiço de si mesma,
matriz de todas as vidas
que veste o tom de um poema.
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